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REZE PELO BISPO!

Atualizado: 15 de jul. de 2022



"Por nosso Arcebispo (Nome), pelo venerável sacerdócio, o diaconato em Cristo, por todo o clero e o povo, oremos ao Senhor".


Por que é tão importante, mesmo necessário e obrigatório rezar pelo bispo em cada liturgia?


Antes de tudo, é importante por causa dos cânones sagrados. Afinal, a elevação do nome da hierarquia dominante testemunha que os verdadeiros Sacramentos estão sendo celebrados nesta igreja. Sabemos que o primeiro celebrante da Divina Eucaristia foi nosso Senhor Jesus Cristo. No Cenáculo, durante a Ceia Mística, Ele celebrou a primeira Eucaristia e nos deu o mandamento: "Fazei isto memória de Mim" (Lucas 22,19). Desde então, a lembrança mais importante de Cristo para a Igreja tem sido a Divina Eucaristia, cujos participantes participam do mistério da salvação, da vida eterna.


Os Santos Apóstolos tornaram-se os sucessores de Cristo. A princípio, eram os celebrantes da Eucaristia, sobre a qual lemos em Atos (cf. Atos 2,42). Os Apóstolos reuniam os fiéis, instruíam-nos na fé, rezavam e celebravam o Sacramento da Eucaristia, com todos comungando do Corpo e Sangue do Senhor. O número de cristãos cresceu de forma constante e os apóstolos não podiam estar fisicamente em todos os lugares; por isso consagraram bispos e ordenaram sacerdotes para celebrar a Eucaristia. Nos primeiros anos da Igreja de Cristo, apenas os bispos celebravam a Eucaristia e os sacerdotes eram seus assistentes. Com o tempo, os bispos deram sua bênção para os padres celebrarem o Sacramento. Mesmo agora, nenhum padre tem o direito de celebrar a Eucaristia ou qualquer outro rito sagrado sem a bênção do bispo governante.


Como você pode ver, a sucessão apostólica direta dos bispos ortodoxos é um dos aspectos essenciais da verdadeira Igreja.


Já no primeiro século, Hieromártir Inácio, o Portador de Deus, escreveu:

"Que a Eucaristia seja reverenciada como verdadeira e celebrada por um bispo canonicamente consagrado; isto é, os sucessores dos Apóstolos" (cf. Epístola aos Esmirnenses 8).

A Igreja percebeu rapidamente a necessidade de proclamar o nome de um bispo ordenado canonicamente durante os serviços, e esta tradição foi preservada até hoje.

Assim, a Sucessão Apostólica é de grande importância. A Igreja o preservou com muito cuidado, até hoje. Como? Observando a canonicidade das consagrações. Somente um bispo canônico pode ordenar sacerdotes e diáconos. E ele mesmo recebe sua consagração de pelo menos três bispos que, por sua vez, têm uma sucessão canônica que remonta aos Apóstolos.


Um bispo canonicamente consagrado ocupa o lugar de Cristo na Igreja; ele é uma imagem do Salvador, independentemente de seu caráter e comportamento (ele pode ser pecador, amaldiçoado, pode ir para o inferno após a morte - isso é assunto pessoal). O lugar do bispo é no altar, atrás da mesa do altar. Quando ele está ali, seu rosto está voltado para a igreja; ele como se supervisionasse todos os cristãos. É por isso que ele é chamado de bispo, como supervisor de toda a Igreja.1


Há muitos falsos bispos e falsos padres em todas as épocas. Por exemplo, aqui no Chipre você pode encontrar pessoas que usam uma riassa [paramento litúrgico, batina] e fingem ser padres, embora não tenham ordenação [muito comum também no Brasil, os chamados tortodoxos]. Eles fazem isso porque estão em um estado de ilusão espiritual, ou porque estão mentalmente doentes, ou porque são apenas golpistas.

Há aqueles que se parecem com padres ortodoxos, mas na verdade são cismáticos. Quem são os cismáticos? São pessoas que se separaram da Igreja canônica em várias questões de ordem, rito ou typikon da Igreja. Os padres cismáticos não são padres canônicos, e os sacramentos celebrados por eles são inválidos. Há também hereges – por exemplo, católicos romanos e protestantes – que romperam completamente com a Igreja Ortodoxa, que criaram suas próprias igrejas, com sua própria hierarquia, bispos e padres.


Você provavelmente já ouviu falar da Unia e dos Uniatas. O Metropolita Christopher2, primaz da Igreja Ortodoxa das Terras Tchecas e da Eslováquia, chegou à nossa diocese há pouco tempo. Em seu discurso introdutório, ele disse que o uniatismo é um grande problema para a Igreja Tcheca. Por quê? Porque na República Tcheca e na Eslováquia, milhares de pessoas frequentam igrejas que não são diferentes arquitetonicamente das igrejas ortodoxas; eles veem padres vestidos com as mesmas vestimentas dos clérigos ortodoxos; eles veem que esses sacerdotes celebram a Liturgia exatamente como os sacerdotes ortodoxos, de acordo com os mesmos livros litúrgicos. Há apenas uma diferença entre os serviços Uniatas e Ortodoxos. E qual que é? Os sacerdotes Uniatas comemoram o Papa de Roma nos serviços. Esta é a única diferença, nada mais. Os cristãos ortodoxos ali, sem perceber, caem na armadilha. Os latinos enganam os fiéis, apresentando-se como se fosse uma igreja ortodoxa, quando, na verdade, essa igreja é católica – heterodoxa.


Aqui em Limassol, por exemplo, existem os cismáticos do Velho Calendário. Um deles se autodenomina bispo de nossa cidade. Se você for à liturgia deles, verá que é exatamente como a nossa. Mas os veterocalendaristas não comemoram um bispo canônico, mas sim o seu próprio bispo. Nossos veterocalendaristas declaram: “Fazemos tudo certo. E na Igreja de Jerusalém, e na Montanha Sagrada, e na Rússia eles servem como nós, no antigo calendário.” Com tais declarações enganam o povo. Suas palavras são completamente falsas. Por quê?


Porque se os veterocalendaristas forem a Jerusalém, ninguém lá os comungará, e eles não podem concelebrar com ninguém. O Patriarca de Jerusalém não aceita os veterocalendaristas em comunhão. Da mesma forma, nem um único metropolita ou sacerdote da Igreja de Jerusalém os aceita. Ao mesmo tempo, é claro, as Igrejas canônicas do Chipre e de Jerusalém têm comunhão sacramental. Quando celebramos a Liturgia, comemoramos o Patriarca Teófilo de Jerusalém. E quando ele serve, ele comemora o primaz da Igreja Cipriota. Portanto, somos uma só Igreja.


Você pode perguntar aos veterocalendaristas:

— “Você acredita no Fogo Sagrado?”

— "Claro que sim."

— “Pode o Fogo Sagrado descer por meio das orações dos hereges?”

— “Não!”3

— “Bem, já que o Fogo não desce pelas orações dos hereges, isso significa que o Patriarca Teófilo é Ortodoxo. E se ele é ortodoxo, isso significa que todos nós que estamos em comunhão com ele e o comemoramos, e a quem ele comemora, somos todos membros do único Corpo da Igreja Ortodoxa. Ou seja, quem não está em comunhão com o Patriarca Teófilo, quem não concelebra com ele e não o comemora, e quem ele não comemora, está fora da Igreja Ortodoxa.”


Afinal, para ser um cristão ortodoxo, não basta apenas acreditar no que a Igreja ensina. Você tem que ser membro da Igreja por meio do Santo Batismo e na participação dos outros Sacramentos, especialmente no Sacramento da Santa Comunhão. Você pode acreditar em todos os ensinamentos da Igreja Ortodoxa sem desviar de uma vírgula, mas mesmo assim não ser ortodoxo. Um exemplo disso são os veterocalendaristas. Eles acreditam nas mesmas coisas que nós, mas, separados dos bispos canônicos e da Igreja, permanecem fora dela. Eles estão em cisma.

Há outra razão pela qual o nome do bispo é elevado durante a liturgia. E qual é?

O bispo é o pai da Igreja, que lhe confiou este ministério. Como bom pastor, vai à frente de seu rebanho, e os fiéis seguem seu bispo. Eles o ouvem e fazem o que ele lhes diz. Vários bispos formam um Concílio Local, que, por sua vez, pode convocar um concílio de toda a Igreja Ortodoxa, e nós, membros da Igreja, aceitamos as resoluções dos Concílios. Devemos orar por nossos bispos para que o Senhor os ilumine para discernir corretamente a palavra da verdade (2Tm 2:15).


Digo-vos por experiência própria: o ministério episcopal é uma grande cruz, muitas vezes completamente desconhecida do mundo. Você não pode imaginar quantas dificuldades você tem que enfrentar todos os dias! Escândalos, tentações, tristezas, sofrimentos – aqueles visíveis para todos, e aqueles escondidos dos outros, que não se pode contar a ninguém...

O apóstolo Paulo ensina os cristãos a obedecerem aos líderes entre eles, ou seja, aos bispos e sacerdotes, e não erguerem pedras de tropeço para eles. Da minha pequena experiência, direi que nos últimos treze anos do meu ministério episcopal, encontrei as maiores dificuldades das pessoas que vão à igreja, e não daqueles que nunca vão. Às vezes, as pessoas da Igreja são piores do que aquelas que estão fora da Igreja - elas insistem que estão certas, elas não querem ouvir e entender o que você está dizendo a elas, elas ameaçam e gritam, e se comportam de uma maneira completamente contrária ao Evangelho.


É claro que também sofremos muitas aflições de pessoas que não pertencem à Igreja. Eles abusaram de nós e cuspiram em nós, e isto continua até hoje. Lembrem-se de São Lucas da Crimeia - todos vocês leram sua vida. Ainda estão sendo publicados livros sobre os Novos Mártires - bispos, sacerdotes, diáconos, monges, freiras, leigos - que sofreram pela fé em Cristo em países onde o regime era ateu. Lendo estes livros, você vê o que atormenta todas estas pessoas. E que isto não foi há muito tempo, alguém poderia dizer - há apenas vinte ou vinte e cinco anos - praticamente em nossos dias.

Na Albânia, um bispo foi enterrado vivo. E quantos tormentos sofreu Hieromártir Crisóstomo de Esmirna!4 Arrancaram-lhe os olhos, cortaram-lhe as mãos, cortaram-lhe a língua, arrastaram-no pelas ruas da cidade e despedaçaram-no. E muitos outros bispos sofreram de maneira semelhante. Ninguém sabe quando isso pode acontecer novamente. Há pessoas que odeiam mortalmente bispos, padres e outros clérigos. E não porque eles têm algo específico contra eles. De jeito nenhum. Mas só porque em sua pessoa, o sacerdote representa Cristo e a Igreja.

Eis algo que me aconteceu enquanto eu estudava em Tessalônica. Um dia, eu estava voltando da escola para casa. Eu estava em minha riassa. Havia uma mulher andando atrás de mim. Ela amaldiçoou e me xingou de todas as maneiras possíveis. Havia muita gente na rua, e ela me seguia de perto e só xingava, xingava e xingava... Acelerei o passo, mas ela também acelerou, sem intenção de ficar para trás. No começo eu não entendi quem ela estava repreendendo. Eu? Mas de onde ela me conhecia? Talvez ela estivesse falando sozinha?

Virei bruscamente por uma pequena rua, e ela fez a curva também. Virei-me novamente, e ela também. Senhor tenha piedade! O que eu deveria fazer? Ao passar por uma livraria, decidi parar. Ela também parou ao meu lado.


— "Estou te amaldiçoando", disse-me ela. "Você ouviu como eu estou amaldiçoando você?"

— "Sim."

— "Você ouviu tudo?"

—"Sim, tudo. Obrigado."

— "Ótimo!", disse a mulher com satisfação, e nisso se virou e saiu.

Ela nem sequer me conhecia. Ela apenas viu um clérigo em uma riassa, e isso evocava ódio nela. Eu poderia contar muitas outras histórias como essa...


Sejamos solidários com aqueles que carregam a cruz do sacerdócio. E quantas dificuldades os padres casados têm que superar! Quantas dificuldades seus filhos têm que enfrentar! Eles podem provocá-los na escola: "Seu papai é um padre! A filha de um padre! O filho do padre!" Os jornais podem escrever todo tipo de artigos ridículos com manchetes "interessantes".

Por exemplo: "A filha do padre bate num vizinho", quando na verdade estes vizinhos simplesmente discutem: quantos vizinhos discutem todos os dias? Ou: "O cão do padre morde um transeunte!" "O gato do padre..." "O rato do padre..." Não importa o que você faça, você será um alvo para todos os tipos de ataques.


No entanto, enfrentar dificuldades semelhantes de pessoas de fora da Igreja é uma coisa. Você pode encontrar algum consolo: as pessoas se comportam assim porque não conhecem a Deus. Mas quando surgem problemas no seio da Igreja e das pessoas da Igreja, isso é muito mais difícil.


Todo bispo se esforça pelo bem da Igreja e das pessoas ao seu redor. E, sem dúvida, cada bispo realiza um grande feito que desconhecemos. E se não o sabemos, não condenemos ninguém, mas rezemos por aqueles que voluntariamente assumiram esta façanha, que voluntariamente se dedicaram à Igreja.


Todos nós, os demais membros da Igreja, queremos bons pais espirituais, bons padres, bons pregadores. Não escolhemos a cruz do sacerdócio para nós mesmos, nem para nossos filhos, nem para nossos netos. Pensamos: "Que alguém o faça". “Mas dê-nos bons padres e bispos”. Mas eles não caem do céu, mas nascem em famílias, de pais. É claro que não podemos fazer todos a mesma coisa. Todos nós temos aspirações diferentes e oportunidades desiguais; mas oremos uns pelos outros, e pelo menos não coloquemos obstáculos no caminho daqueles que assumiram a cruz episcopal. Não sejamos exigentes quanto aos seus erros.

Os bispos também são pessoas e, sem dúvida, cometem muitos erros. Já lhe disse muitas vezes que fico chateado quando as pessoas me consideram infalível, que não cometo nenhum erro ou engano. Quem sou eu? Um alienígena? Claro que tenho meus erros, pecados e paixões. E o diabo luta comigo, como faz com todas as outras pessoas. É uma grande ilusão quando alguém declara: “Não tenho tentações; Eu não cometo erros; eu não erro”. Quem comete mais erros? Aquele que diz que não tem erros.


Portanto, primeiro, não criemos obstáculos e tropeços para nossos clérigos, e segundo, os ajudemos com nossas orações. Oremos por nossos bispos, sacerdotes e diáconos, por aqueles que servem na Igreja. Eles estão muito necessitados das orações de seus irmãos. Portanto, Cristo nos ordena a rezar por aqueles que trabalham na seara.


Se você mesmo não pode arar, não pode semear, não pode colher o campo, então pelo menos não jogue pedras no campo, mas reze por aqueles cinco ou dez "esquisitos" que trabalham neste campo, e os ajude com sua oração. Poderíamos ter nos casado e ter tido famílias, poderíamos estar usando ternos, dirigindo carros, caminhando pela praia depois do jantar, ou indo para casas de campo no fim de semana... Mas nos dedicamos voluntariamente à Igreja por amor a Cristo.

Quando há tentações e escândalos na Igreja, quando o bispo comete erros, quando sofre tentações, dificuldades, nós, os fiéis, devemos agir como agimos quando surgem problemas em nossos próprios lares, em nossas famílias, com nossos filhos. Afinal, não nos regozijamos quando estas coisas acontecem; não saímos para a varanda e anunciamos nossas dificuldades. Pelo contrário, tentamos esconder nossos problemas familiares, não revelar a nudez dos que nos são próximos, não os degradamos. Da mesma forma, com amor e bondade, vamos cobrir as fraquezas dos clérigos, vamos curá-los com nosso amor e nossas orações.


Devemos agir assim não apenas em relação aos clérigos, mas em geral com todos: não divulguemos os fracassos e sofrimentos dos outros; não nos gloriemos nem nos regozijemos. Digamos que você tenha um problema com um vizinho. Quando você fofoca sobre eles com outros vizinhos, a tentação só aumenta e as coisas pioram. Seus vizinhos estão piorando, e você mesmo está piorando. Qual é a coisa certa a fazer em tal situação? Fique quieto e ore a Cristo pelo seu próximo. Mas não assim: “Perdoa-os, meu Cristo, por me causarem tanto mal. Sou uma pomba inocente, um cordeiro manso, mas são tigres que me devoram... Mas ainda assim, perdoa-lhes, meu Cristo". Esse não é o tipo de oração que quero dizer, claro.


A prece durante as dificuldades que nos ocorrem ameniza nossas tentações, nos ilumina, age como um bálsamo, como um óleo que amacia nossas feridas. Enquanto isso, a condenação, a alegria e os mexericos pioram a situação e nos tornam instrumentos de satanás: Nós condenamos, e nossos entes queridos sofrem.

E você sabe qual é a coisa mais assustadora? Que muitas vezes podemos condenar até mesmo as pessoas que são santas ou inocentes. No Evangelho, Cristo não nos permite condenar ninguém. Portanto, tratemos todos à nossa volta com amor e boa vontade, e especialmente aqueles que voluntariamente assumiram a cruz de Cristo, a cruz do ministério episcopal ou sacerdotal. Rezemos sempre por eles.
















Metropolita Athanasios de Limassol







1 O substantivo επίσκοπος (episkopos) é formado a partir do verbo ἐπισκοπέω, que por sua vez é formado a partir do verbo σκοπώ ( vigiar), com a adição do prefixo επί (acima, sobre).


2 Met. Christopher serviu como primaz de 2006 a 2013.


3 Esta verdade é confirmada por um milagre. Uma vez no Sábado Santo, os armênios não deixaram os ortodoxos entrar na Igreja da Ressurreição de Cristo, e os armênios católicos entraram no Sepulcro para receber o Santo Fogo. Mas o Fogo não desceu sobre o Santo Sepulcro onde os católicos estavam orando, mas passou por uma coluna na entrada da Igreja, onde o patriarca ortodoxo estava de pé. O Fogo formou uma grande fenda na coluna que permaneceu até os dias de hoje.


4 Hieromártir Crisóstomo foi brutalmente morto pelos turcos em Esmirna em 27 de agosto de 1922, durante a catástrofe da Ásia Menor, quando os turcos massacraram os gregos ortodoxos da cidade. Quando as tropas turcas entraram em Esmirna, os britânicos e franceses ofereceram ao metropolita para se refugiar em suas embaixadas, mas ele recusou, não querendo deixar seu rebanho.







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