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Reflexões sobre as guerras e a atitude do cristão diante delas.

— Por São Sofrônio (Sakharov)





Desde o início do século XX o mundo tem passado por grandes guerras, pelo surgimento de ideologias totalitárias que visam remodelar determinada sociedade desde cima, a submissão a um poder totalitário e a criação de armas com poder de destruição crescente.


Não é difícil enxergar alguns grupos ou pessoas fissurados na política, adeptos de alguma ideologia — o bezerro de ouro de nossos dias — e de figuras políticas inseridas em algum contexto da Igreja. Na internet, principalmente, vemos pessoas misturando Fé Ortodoxa com todo o tipo de loucura política. Em tempos de conflitos internacionais, não é difícil de encontrar discursos maniqueístas, atribuindo ao outro todo o mal do mundo, seja um grupo específico, países ou etnias.


Em sua maioria, são jovens inflamados por retóricas e narrativas políticas despojadas de inteligência e complexidade, pois não abarcam a realidade, por isso se tornam discursos vazios e reducionistas; formando nos contrários um simples pacifismo emasculado e nos entusiastas um mórbido sentimento de destruição do “inimigo”, a ponto de se comemorar mortes.


São Sofrônio faz algumas reflexões acerca dessas questões e dá uma direção para aqueles que se dizem seguidores de Cristo:




"Não é de surpreender que todos nós observamos a rapidez com que a humanidade se afasta da Igreja, de Cristo. Para mim, a explicação para esse fenômeno reside no fato de que já há meio século (desde 1914) toda a Terra respira o ar do fratricídio* sem fim, e ninguém oferece arrependimento por esse pecado. É natural que neste estado as pessoas não ousam olhar para a grande Luz de Cristo. Acreditar nas boas novas de Cristo, de que todos nós, seres humanos, somos filhos do Criador Eterno, acreditar em nossa própria eternidade através da ressurreição dos mortos, acreditar que um ser humano é a imagem do Deus vivo — isso agora está além do interesse das pessoas, e o resultado é o crescimento exponencial da apostasia universal. Quando eu estava na Grécia durante a guerra, perguntava a quem vinha a mim para ouvir suas confissões:


— Você se esqueceu de me contar sobre um grande pecado seu...
— Que pecado?
— Bem, que você é um assassino…
— Não, eu não sou um assassino, por isso não posso confessar esse pecado para você.
— Sim, mas diga-me, na guerra, quando você ouviu que em tal e tal operação o chamado inimigo sofreu grandes perdas, você não se alegrou?
— Claro que sim! Eles que começaram a guerra e é tudo culpa deles, então é bom quando eles são surrados.
— Bem, meu querido, tanto faz, já que você escolhe olhar para isso de um ponto de vista humano comum. Para o Evangelho isso é cumplicidade moral em matar, e é por isso que é necessário oferecer arrependimento também por esse pecado.
(...) As pessoas não entendem isso corretamente".

A. Sophrony, Письма к близким людям [Letters to Close Friends], pp. 86-90





"As pessoas hoje em dia, muitas vezes contra sua vontade, tornam-se participantes morais de infindáveis fratricídios locais e até planetários. Como tal — isto é, como cúmplices morais impenitentes — eles naturalmente perdem a graça do Espírito Santo e não são mais capazes de acreditar em sua imortalidade através da ressurreição. Nem mesmo a buscam. Nesta autocondenação à fugacidade reside a essência espiritual do desespero".

A. Sophrony, We Shall See Him as He Is, p. 236




As manifestações de orgulho são inúmeras, mas todas distorcem a imagem divina no homem. Fora de Cristo, sem Cristo, não há solução para o drama da história terrena da humanidade. A atmosfera exala cheiro de sangue. Dia após dia, o universo é alimentado com notícias do assassinato ou tortura dos que são vencidos no conflito fratricida (guerra). Nuvens negras de ódio escondem a Luz celestial de nossos olhos. As pessoas fazem seu próprio inferno para si mesmas. A menos que, e até permitirmos que o arrependimento nos transforme totalmente, não haverá libertação para o mundo — libertação da mais terrível de todas as maldições, a guerra. Melhor ser morto do que matar, está é a atitude do humilde homem que ama [cf. Mat. 10:28; 5:21-22]

A. Sophrony,We Shall See Him as He Is p. 31

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* São Sofrônio usa fratricídio como sinônimo de guerra.


Tradução: Abouna Paisios

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