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O que a Ortodoxia fala acerca da Astrologia?

Atualizado: 25 de mai. de 2022



«São Nikodemos, o Hagiorita, colocava a astrologia entre as "onze práticas de bruxaria".

Citando esta referência de São Nikodemos - apontando diretamente a astrologia junto as outras onze práticas - o Bem Aventurado Ancião Cleopa diz que: “:Aqueles que praticam bruxaria e vão a bruxas cometem um grande pecado contra o Espírito Santo, quando deixam Deus e pedem a ajuda dos demônios. Eles renunciam aos servos de Cristo - os santos sacerdotes - e vão aos servos de Satanás. Ou seja, eles abandonam a Água Viva - o padre - e a graça da Igreja e, por causa de seus interesses humanos e apaixonados, chamam a ajuda dos inimigos de Cristo - os bruxos e bruxas. Eles rejeitam a Verdade e, em vez disso, recebem mentiras, pois as palavras de todos os magos não passam de mentiras e enganos diabólicos.” (Ne vorbeşte Părintele Cleopa", 4º vol.)


São Basilio, no cânon 72, estabelece que: “A pessoa que se confiar a encantadores (feiticeiros-bruxos) ou alguém semelhante será punida com o cânone que se aplica a assassinos”.

O cânone 61 do 6º Sínodo Ecumênico veta a Comunhão por um período de seis anos a todos os que consultam “feiticeiros”, que tentam descobrir e prever eventos e tendências futuras através de talismãs, genealogia, “nuvens”(elementos da natureza em geral) e diversas outras práticas.


Discutindo sobre os impactos da prática na relação entre Criador e criatura, São João Damasceno escreve: “se todas as nossas ações dependem do curso das estrelas, tudo o que fazemos é feito por necessidade (destino, em outras palavras); e a necessidade exclui a virtude ou o vício. Mas se não possuímos nem virtude nem vício, não merecemos louvor nem punição, e Deus também se tornará injusto, pois Ele dá coisas boas a algumas terras que afligem outras.

De fato, Ele não mais guiará ou sustentará Suas próprias criaturas, se todas as coisas forem carregadas e arrastadas pelas garras da necessidade. E a faculdade da razão será supérflua para nós, pois se não somos donos de nenhuma de nossas ações, a deliberação é bastante supérflua. A razão, de fato, é concedida a nós apenas para que possamos pedir conselhos e, portanto, toda razão implica liberdade de vontade.” (The Exact Exposition of the Orthodox Faith, Book II, Chap. VII).


Qualquer “googlada” relacionando “Ortodoxia e astrologia” revelará uma enxurrada de declarações e determinações como estas citadas. SEMPRE ligando astrologia à feitiçaria/bruxaria e colocando o astrólogo como feiticeiro/bruxo.

Se o medievo latino tolerou ( e muitas vezes incentivou) esta prática, o mesmo não se pode dizer da Ortodoxia. Se a história absolve este tipo de bruxaria para os que seguem o Papa, os Ortodoxos não encontram nela nada mais do que a condenação.


"Vós que fostes batizados" na Verdadeira Fé, mas que procuram “mestres” além da Tradição Apostólica, não poderão alegar que estavam apenas “estudando religiões comparadas”, ou buscando o despertar da “vida intelectual”. Podemos enganar nossos párocos, nossos pais espirituais, nossos familiares, nossos irmãos de sangue e de espírito...mas, não podemos enganar a Deus. A palavra e o Espírito são claros diante disso.» — Pe. Paísios Dias


Evidentemente, alguns cristãos ortodoxos não sabem que a Igreja, na Bíblia, nos cânones e nos escritos dos Padres, condena a prática da Astrologia.


Isaías, por exemplo, diz (47,13-14), "Que agora se levantem os astrólogos, os observadores de estrelas, os prognosticadores mensais, e te salvem destas coisas que virão sobre ti". Eis que eles serão como restolho; o fogo os queimará; não se livrarão do poder da chama...".

Jeremias escreve: "Assim diz o Senhor: Não aprendais o caminho dos pagãos e não vos assusteis com os sinais do céu, pois os pagãos se espantam com eles. Pois os costumes do povo são vãos...".

Em Daniel (2:27-28), lemos: "Daniel disse: 'O segredo que o rei exigiu não podem os sábios, os astrólogos, os magos e os adivinhos, mostrar ao rei; porém há um Deus no céu que revela segredos'".

Em sua Epístola aos Gálatas, São Paulo, descobrindo que até mesmo alguns que se haviam tornado cristãos se apegavam a suas práticas anteriores: "Mas agora, depois de terdes conhecido Deus, ou melhor, de serdes conhecidos de Deus, como voltareis novamente para os elementos fracos e miseráveis (a palavra grega significa 'rudimentos da religião', como a astrologia), para os quais desejais estar novamente em escravidão? Vós observais dias, meses, tempos e anos. Tenho receio de vós, para que eu não tenha trabalhado em vão". (4: 9-11)


A astrologia era originalmente uma religião. Os gregos a aprenderam com os caldeus e persas. Cada planeta era um deus que tinha uma personalidade divina e controlava a vida e o destino do homem. Apesar do fato de que os astrólogos de hoje geralmente negam que sua "arte" tenha algo a ver com religião, a astrologia moderna nada mais é do que uma antiga religião pagã disfarçada.


É interessante ler o que alguns dos Padres da Igreja têm a dizer sobre o assunto.

São Cirilo de Jerusalém ( Aula Catequética IV, 18) diz: "Não é de acordo com a data de seu nascimento que você peca, nem é pelo poder do acaso que você comete fornicação, nem, como alguns dizem ociosamente, a confluência das estrelas o impele a se entregar à devassidão. Por que você hesita em confessar suas próprias más ações e atribuir a culpa aos astros inocentes? Não preste atenção aos astrólogos, pois a respeito disso, as Escrituras dizem: (e aqui ele cita Isaías 47: 13-14, veja acima).
São Gregório, o Teólogo (Oração XXXIX, v) fala "...da astronomia e dos horóscopos caldeus, comparando nossas vidas com os movimentos dos corpos celestes, que não podem nem mesmo saber o que eles mesmos são, ou o que serão".
"O homem não foi feito para as estrelas, mas sim as estrelas para o homem; e se uma estrela pode ser chamada de governante do homem, então o homem deve ser considerado escravo de seus próprios servos." — São Gregório Magno

Deus não criou os planetas e as estrelas com a intenção de que eles dominassem o homem, mas que eles, como outras criaturas, o obedecessem e o servissem.

Agostinho considera a astrologia uma religião fatalista que é veementemente condenada pela Igreja. Ele entende que qualquer pessoa que acredita que nosso Deus amoroso daria poder às estrelas a fim de dirigir e governar nossas vidas ofende a justiça e o amor de Deus.

São João Crisóstomo vê esta crença nas estrelas como uma descrença tola contra a onipotência e a criatividade de Deus. Deus está sujeito ao poder da estrela. Ele também aponta que se somos dirigidos pelo poder das estrelas, então não existe o bem ou o mal porque fazemos o que fazemos sob a direção das estrelas. "Isto significa que os mandamentos de Deus, que o homem não deve pecar ou que o homem deve fazer o bem, não se resumem a nada além de tolices".

São João Damasceno ( A Exata Exposição da Fé Ortodoxa, Livro II, Cap. VIII) escreve:


"Agora os gregos (os pagãos) declaram que todos os nossos atos são controlados pelo nascer e pelo pôr-do-sol e pela colisão das estrelas, do sol e da lua (e dos signos do zodíaco); pois é com esses assuntos que a astrologia tem a ver. Mas sustentamos que o que recebemos deles são sinais de chuva e estiagem, frio e calor, umidade e secura, e de vários ventos, e assim por diante, mas nenhum sinal quanto às nossas ações. Pois fomos criados com livre arbítrio por nosso Criador e somos mestres em nossas próprias ações. De fato, se todas as nossas ações dependem do curso das estrelas, tudo o que fazemos é feito por necessidade (destino, em outras palavras); e a necessidade exclui tanto a virtude quanto o vício. Mas se não possuirmos nem virtude nem vício, não merecemos nem louvor nem punição, e Deus também se mostrará injusto, pois Ele dá coisas boas a alguns, e aflige a outros. De fato, Ele não mais guiará ou sustentará Suas próprias criaturas, se todas as coisas forem levadas e arrastadas nas garras da necessidade. E a faculdade da razão será supérflua para nós, pois se não formos senhores de nenhuma de nossas ações, a deliberação é bastante supérflua. A razão, de fato, nos é concedida apenas para que possamos nos aconselhar e, portanto, toda razão implica em liberdade de vontade".

A Ortodoxia condena somente a Adivinhação na Astrologia?


Fomos acusados por algumas pessoas de "interpretar os ensinamentos da Igreja de forma equivocada”. Pois bem! Essas pessoas alegam que o que a Igreja condena é única e tão somente "adivinhação" ou "a prática mágica de maneira determinista".

Para seus defensores modernos já não há mais esse resquício determinista e de previsão do futuro, mas somente o estudo simbólico.


Queremos enfatizar que ninguém é obrigado a ser um cristão ortodoxo. Se não concorda com a exposição do tema pela Igreja, que siga seu caminho e sua própria opinião. Mas nunca, em hipótese nenhuma, diga que a Igreja aceita e tolera algo que ela não diz ou tolera.


Quando falamos em simbolismo na Ortodoxia não falamos do mesmo tipo da Semiótica ou de qualquer outro estudo simbólico. A definição da Ortodoxia é a mistagogia, uma das camadas de sua Teologia. A Mistagogia é a pedagogia do mistério.

Seríamos iconoclastas se negássemos esse aspecto da Fé Ortodoxa. Mas quando apresentamos esse ícone abaixo, não é para a validação da Astrologia e do conhecimento esotérico presente nela. É, antes de tudo, afirmar que Cristo é o Senhor sobre todas as coisas e, em sua interferência na humanidade, subjugou TODO o Cosmos. Sendo assim, tudo é ressignificado n'Ele.


Portanto, este ícone, mistagogicamente apresenta o Cristo como Senhor de todo o Cosmos, como que presente em toda parte, em todo lugar e em todas as Eras.

É a mesma temática de Christ, the Eternal Tao, onde Cristo é visto e referenciado de determinadas formas dentro de todas as culturas da humanidade.


Mas, dizer que a Verdade se apresenta em parte em cada lugar, cultura ou religião; não é o mesmo que dizer que existe uma unidade transcendente das religiões como afirma o perenialismo, o ecumenismo chique e intelectual.

NEle se encontra o fim de todas as coisas. Até mesmo as respostas para todo e qualquer anseio da personalidade humana e sua psique.


O estudo dos símbolos é um campo da ciência conhecido como Semiótica. De fato, não há algo condenável somente no conhecimento de determinado assunto, mas quando se diz estudo simbólico na Astrologia, se remete às transformações sofridas pela Astrologia no século XX, que passa a ter contornos psicológicos.


O determinismo característico passa para o campo analítico, focado na pessoa e não mais em acontecimentos. Agora se adentra na questão do “autoconhecimento”, da identificação das potencialidades e vulnerabilidades, e busca de uma compreensão ontológica por meio dos astros.


Justificam, então, que não há perigo nesse tipo de abordagem. Mas a astrologia aplicada à psique, na prática, busca adivinhar traços psicológicos e vocacionais por meio dos astros, portanto, é uma prática divinatória. Não do futuro, mas da psiquê.

Os Pais da Igreja foram enfáticos, e mesmo em seu tempo esse tipo de abordagem era conhecido, tanto que eles afirmaram que o único sentido de sua utilização (dos astros) seria para inferir fenômenos astronômicos e meteorológicos. Ao condenar o uso divinatório os Pais estão condenando todo uso preditivo fora do campo dos fenômenos naturais e astronômicos.

“Os Pais haviam dito que Deus havia criado as estrelas para servir de sinal aos homens, tanto para contar o tempo quanto para prever fenômenos naturais, mas as estrelas não poderiam ter um controle sobre o destino humano, pois, nesse caso, sua natureza seria divina.” — Efthymios Nicolaidis.

Pode parecer que se fala de coisas diferentes quando diz que “controle sobre o destino” não é o mesmo que “estudo de personalidade”, mas segundo o renomado astrólogo Stephen Arroyo:

“A astrologia pode fornecer a chave das iniciações (isto é, dos períodos cruciais de confrontação e crescimento acentuados) que ocorrem na vida de todas as pessoas, um padrão e uma necessidade que são ignorados pela cultura ocidental.”

O objetivo é apontar para situações, oportunidades, eventos e características psíquicas por meio do estudo de arquétipos na análise do mapa de determinada pessoa, uma espécie de clarividência por meio dos estudos astrológicos.


O historiador Efthymios Nicolaidis — crítico da Igreja a respeito do tema, portanto, modernista — em seu livro, Science and Eastern Orthodoxy, enfatiza que para os Pais nenhum outro tipo de conhecimento poderia ser obtido pelos astros a não ser os fenômenos naturais:


“Já no século IV, Basílio considerava completamente válido basear-se na observação de 'luminárias' (o sol e a lua) para prever fenômenos naturais como a passagem do tempo. Além disso, Basílio havia dito que, o Senhor nos disse que os sinais do fim do mundo apareceriam no sol, na lua e nas estrelas. Ele acrescentou que 'alguns excedem os limites e se inspiram nas Escrituras para defender a arte do horóscopo; eles dizem que nossa vida depende do movimento nos céus, e que os caldeus poderiam encontrar nas estrelas indicações do que vai acontecer conosco. Eles simplesmente interpretaram a palavra da Escritura ‘Que sirvam como sinais’ para significar que ela não se aplica às mudanças atmosféricas nem à passagem do tempo, mas ao destino que nos espera'. Assim, Basílio condenava a arte horoscópica que consiste em determinar o signo de nascimento de uma pessoa para predizer seu destino.”

A confecção de um mapa astrológico serve para o mesmo propósito. Na prática, a pessoa tenta saber se determinada data é favorável para realizar um evento como um casamento, por exemplo, ou mesmo a visão determinista continua embutida, já que “a representação do céu no momento do nascimento, traz aspectos para a vida toda”.

É como dizem, a “fotografia tirada do céu” e também a descoberta de informações, “desde a personalidade até como a pessoa funciona em seu inconsciente”.


Há também a justificativa de que mesmo o imperador fazia uso da Astrologia, assim como era comum no Império Bizantino. A isto diz Elfthymos:


“Embora intransigente em relação ao dogma e apaixonada por debates religiosos como o dos ícones, a igreja deixou o imperador fazer o que ele queria quando se tratava de astrologia, embora a interdição dos Pais fosse clara.
Embora todos os Pais da Igreja, quando pertenciam às escolas de Alexandria ou Antioquia, tivessem condenado a Astrologia quanto à sua capacidade de prever as ações humanas, os próprios bizantinos ortodoxos logo se entregaram a esta arte, contornando a condenação da prática pelos Pais. A Corte Imperial precisava de astrólogos para tomar decisões; portanto, também prestou pouca atenção às críticas da Igreja.”

Terminamos com uma citação de São João Crisóstomo (Homilias em Primeiro Coríntios, iv, 11) que mostra como a fé dos cristãos de seu tempo havia sido enfraquecida pelo renascimento desta prática pagã:

"E, de fato, uma noite profunda oprime o mundo inteiro. Isto é o que temos que dissipar e dissolver". Não é apenas entre os hereges e entre os gregos (pagãos), mas também nas multidões do nosso lado (os cristãos) no que diz respeito às doutrinas e à vida. Para muitos, a ressurreição é totalmente desacreditada; muitos se fortalecem com seus horóscopos; muitos aderem às observâncias supersticiosas, aos presságios, aos augúrios e às superstições. E alguns também usam amuletos e encantamentos".









FONTES:


  • Postagem de Facebook - Diácono Paísios Dias @deaconpaisiosdiaz

  • What's In The Stars? A Close Look at Astrology – Pravmir

  • Astrology is Astrolatry – Fr. Alexander Karloutsos — Greek Orthodox Archdiocese Of America

  • Science and Eastern Orthodoxy: From the Greek Fathers to the Age of Globalization - Elfthymos Nicolaidis

  • A Christian Approach to the Philosophy of Time – David Bradshaw

  • Horóscopo Virtual – Astrologia Horária

  • Why the Orthodox Church Negatively Relates to Astrology - Culturell.com

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