— Por Pe Paísios (Diaz) e Arquimandrita Gregórios (Estephan)
Dos teólogos antioquinos contemporâneos, o que mais se destaca na defesa da Tradição e da Verdadeira Fé é o então Abade do milenar Mosteiro de Bkefitine (Líbano), Arquimandrita Gregorios (Estephan). Sendo um monge, o principal motivo de sua existência é a oração incessante.
Porém, ele também produz artigos, livros e sermões que tem iluminado Antioquia em direção à Verdadeira Fé; Abouna Gregorios concentra muitos de seus esforços em temas que giram em torno do conceito vivo de ‘Verdadeira Fé’ e de como todos os temas relacionados à Igreja devem ser pautados nessa Fé, sendo ela mesma o fundamento da Ortodoxia. Essa Verdadeira Fé é colocada em constante contraste com o que ele chama de “cristianismo social”, que é um cristianismo puramente moralista. Nessa parábola, ele apresenta dois comportamentos que se encontram em lados opostos na vida espiritual: a humildade e a autojustificação.
Na verdade, essa parábola trata da adoração correta e devida a Deus. Existe um modo correto de adorar a Deus. Cristo aponta o publicano como um arquétipo do homem humilde que deseja se unir ao Deus-homem. E a humildade desse homem se torna o modelo de comportamento de todo cristão Ortodoxo.
Sem essa humildade, nós não conseguimos progredir em nossa luta espiritual e em nosso movimento de reconciliação com Deus. Essa humildade é o pré-requisito para a oração e a adoração agradável a Deus. Nesse sentido, o fariseu era um blasfemador. Digo isso, pois, no templo, em oração a Deus, ele não foi capaz de se reconhecer como pecador (o que seria o fruto imediato dessa humildade ideal). Pelo contrário, o Fariseu justifica a si, coloca-se diante de Deus como um homem superior aos seus irmãos e sua oração é uma ode ao orgulho próprio. É autocentrada e enraizada na autojustificativa.
A autojustificativa é a causa do suicídio espiritual de muitos e uma inimiga perigosa da vida espiritual. E nós, conscientes ou não, fazemos uso apaixonado dela em nosso dia a dia. A autojustificação, nada mais é, do que o nosso ego esmagando nosso espírito em nome da autonomia, do amor-próprio, do valor à própria opinião e às próprias vontades. É como alguém que comete um erro e diz a si mesmo e ao próximo: “ah, mas eu sou humano, né?”. Como se a justificativa da humanidade caída o isentasse do erro.
Neste sentido, entendendo a autojustificativa e o orgulho farisaico como uma blasfêmia (que subverte a verdadeira oração e adoração), Arquimandrita Gregórios diz que toda heresia que cresceu no mundo foi causada pelo orgulho farisaico. E o cristianismo moderno, chamado por ele de cristianismo social, traz em si essa característica. A pessoa reza a Deus exigindo, se autojustificando, exigindo bens, benefícios, etc. É um cristianismo puramente moralista, que também assalta a Ortodoxia, ainda que não de um modo dogmático, mas de maneira ‘funcional’; ou seja, por meio de uma postura, das palavras de um sacerdote ou bispo, introduzindo no rebanho Ortodoxo um ethos estranho à Tradição e os afastando da correta adoração.
Ele (Arquimandrita Gregórios) diz que o problema do fariseu não era tanto seguir uma heresia inadvertidamente (o que é grave por si só), mas a negativa obstinada da Verdade que ele, por ser um fariseu (e tudo que isso implicava) deveria conhecer.
Farisaísmo não é defender a fé de modo inegociável, mas negá-la. Não é aquele que diz que é preciso jejuar, mas aquela pessoa que diz que não é preciso jejuar. Não é a busca por fazer tudo de modo estrito e correto, porque isso é bom (desde que feito com humildade), mas aquele que age justificando as próprias convicções, sobretudo relacionadas à fé, em detrimento da Verdadeira Fé e ainda diz:
“Graças te dou, Deus, porque não sou como esse fanático que quer fazer tudo certinho”. É o liberal que relativiza o ensino dos Santos Padres e se recusa a exercer a Fé Verdadeira.
E dessa postura farisaica nasce a suprema blasfêmia moderna: a falsa noção do que chamam de “amor”. Não o amor sacrificial de Cristo, claro. Mas um amor hedonista, sendo a pedra preciosa desse comportamento farisaico, pois ele é pura autojustificativa. Porque você ama o que te ama, aquilo que é cômodo amar... e é em nome desse amor que a Fé é sufocada e subvertida. É em nome desse amor que o engano é tolerado. Porque isso não é amor, mas farisaísmo (...)
— Pe Paísios (Diaz) - palestra no dia 08/02
“Do ponto de vista da fé, o verdadeiro farisaísmo compreende essa escuridão em que a alma orgulhosa cai, de modo que ela não faz mais distinção entre o que é do Espírito de Deus e o que é do espírito do diabo. Essa alma torna-se incapaz de discernir a verdade da ilusão. Só os humildes são verdadeiramente espirituais, porque obedecem à Igreja, à sua fé e aos seus cânones, e Deus concede-lhes o dom do discernimento e a capacidade de separar o que é verdadeiro e o que são os falsos ensinamentos que desfiguram esta Verdade. Estes (humildes) são os mestres e Padres da Igreja e os defensores de sua Fé.
Esta é a luta constante entre orgulho amaldiçoado e humildade abençoada; farisaísmo e obediência; autoconfiança e arrependimento; essa luta aumentará à medida que avançamos para o fim. O pecado do fariseu não está somente na alma que se desvia da verdade, mas naquela alma a quem a verdade é revelada, mas continua insistindo em sua ilusão; e induz os outros ao erro enquanto sugere que eles estão certos. O farisaísmo é a cegueira diante da Verdade, quando a Verdade está totalmente presente diante de nós em sua plenitude.
O farisaísmo não é a adesão firme à nossa fé Ortodoxa e a nomeação de hereges e falsos mestres. O farisaísmo é a adesão patológica às nossas convicções pessoais, que se opõem aos ensinamentos da Igreja e decorrem de um espírito mundano e das instabilidades da Nova Era.
Cristo não condenou o pecador, mas Ele mesmo condenou o herege, quando disse que todas as blasfêmias são perdoadas, mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, mas corre o risco de condenação eterna (Mc 3:29 ). Nossos Santos Padres entendem estes "blasfemadores imperdoáveis" como hereges e falsos mestres.
O nosso Cristo é o Cristo dos humildes, que abençoa o que a Igreja abençoa e anatematiza o que ela anatematiza. Tais pessoas não pecam contra Deus, nem contra os homens, nem contra a fé, nem contra o amor.
O amor não unifica a humanidade – a fé Ortodoxa em Deus é o que unifica os homens, de uma forma interna e íntima. Quando creem na mesma fé, tornam-se um, e o amor sela então esta unidade, mediante a participação no único Corpo e Sangue de Cristo.”
— Arquimandrita Gregórios (Estephan)
– texto original em: almasihqam.blogspot.com
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