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Faculdade Noética e Faculdade Racional: As Duas Faculdades da Alma

Foto do escritor: Resposta OrtodoxaResposta Ortodoxa

Atualizado: 2 de fev.



A “Ortodoxia é mística”, “a espiritualidade Ortodoxa é mística”.

Estas afirmações, em suas dezenas de variáveis, são lidas e ouvidas com frequência quando o assunto é a Igreja Ortodoxa. Tanto ouvimos que repetimos, mesmo que não saibamos exatamente o motivo da associação.


Em uma roda de Ortodoxos, se perguntarmos o porquê de a “teologia Ortodoxa ser mística”, essa pergunta trará diversas respostas à tona, desde associar essa afirmação aos Sacramentos (Mistérios), o que não é errado, até apontar para conceitos que lembram as antigas “religiões de mistério” e sua dimensão iniciática. Todas as afirmações parecem trazer um certo sentido, mas a resposta parece tão misteriosa quanto a afirmação. Mas, sem pretensões grandiosas, se nós desejamos ser compreendidos e desejamos que a Ortodoxia se torne uma realidade possível para todos, devemos de alguma maneira definir isso de modo simples.

 

Aqui, podemos dizer então que, por mística, entendemos que é a certeza de que Deus existe e de que nós experimentamos a Deus, sem precisarmos compreender racionalmente essa experiência, sem submeter essa experiência à razão humana. Em vez de assimilar a Verdade como um dado, devemos vivê-la, experimentá-la. Assim, a articulação verbal, a formulação racional de um Mistério — um dogma, por exemplo — não é o Mistério em si, pois o Mistério pode ser apenas experienciado em comunhão.

 

Isso traz ao nosso conhecimento outra afirmação, de cunho antropológico: O homem, psicossomaticamente, possui dois centros cognitivos: nous e razão. Faculdade noética e faculdade racional. Nesse caso, precisaremos de algumas palavras a mais para tratar sobre o tema.


Antes, de modo simples,

 

 O que é o nous e o que é a razão?

 

O termo ‘nous’ é usado de várias maneiras entre os Santos Padres. Ele indica a alma ou o coração, ou até mesmo uma energia da alma. O nous é referido, principalmente, como o olho da alma, a parte mais pura da alma, a atenção mais elevada. “Olho do coração ou da alma” ou a “mente do coração”.


O nous é, então, o nutridor da alma, sendo que seu funcionamento natural se encontra na captação do que é Divino, atingindo sua verdadeira função quando o homem une-se a Deus. Mas, sendo um órgão espiritual que lida com os conceitos, pensamentos e imagens, quando em funcionamento antinatural, disperso entre as coisas do mundo, o nous insere diretamente na alma e no coração todo esse conteúdo nocivo, o que acaba por adoecer a alma como um todo. Estar atento aos movimentos do nous é primordial, pois, após a Queda do Homem, ele encontra-se obscurecido e perdido entre as impressões originárias dos sentidos. Em seu estado natural, todos os pensamentos oriundos do mundo devem ser expulsos do nous. E para isso, ele deve ser purificado. O nous é órgão pelo qual conhecemos a Deus.

 

Por outro lado, pela razão — através da faculdade racional — podemos conhecer a natureza criada, o mundo ao nosso redor. A faculdade racional interage e se relaciona com o mundo sensível e, dentro dessa interação, pode-se chegar ao reconhecimento da criatividade e sabedoria infinitas de Deus. A razão é a faculdade pelo qual o homem processa o conhecimento das coisas sobre Deus.

 

Ambos, órgãos de conhecimento, mas em seu funcionamento próprio, não devem ser confundidos e relacionados em suas atividades.




Faculdade Noética e faculdade racional

 

"De acordo com São Máximo, o Confessor, e com a tradição patrística Ortodoxa, temos dois centros cognitivos. Em outras palavras, dois caminhos, duas maneiras pelas quais podemos reconhecer as coisas, a natureza criada e o próprio Deus.
 Esses dois centros são o nous (que os Padres identificam com o coração) e a razão (que é o pensamento racional, a inteligência, a mente). O assento do nous é o coração, o da razão é o cérebro” ... ‘O nous é o centro da alma... Por meio do nous, que é a energia de visão da alma (por isso também é chamado de “olho da alma”), adquirimos conhecimento e experiência de Deus, tornamo-nos participantes da revelação divina.
 A razão é a energia prática da alma. Por meio da razão (lógica), podemos conhecer a natureza criada. O conhecimento da criação de Deus, é claro, também nos ajuda a chegar ao conhecimento do próprio Deus, embora isso seja de fato adquirido por meio do nous. Em outras palavras, não podemos conhecer Deus por meio da razão. A razão pode nos levar à necessidade de fé em Deus, mas o verdadeiro conhecimento dEle vem por meio do nous, que é o coração." + (Arquimandrita Athanasios (Anastasiou), Abade do Santo Mosteiro da Grande Meteora)

 

De maneira semelhante, o então Metropolita de Nafpaktos, Hierotheos (Vlachos), apresenta essa distinção da seguinte maneira:

 

De acordo com o ensinamento dos santos Padres, particularmente São João de Damasco, que resumiu toda a tradição patrística da doutrina Ortodoxa, a alma humana tem duas faculdades: a faculdade racional e a faculdade noética. Por meio da faculdade racional, o homem se relacionava com o mundo com seus sentidos e, por meio da faculdade noética, tinha comunhão e comunicação com Deus. + (The Science of Spiritual Medicine)

 


Essa distinção é básica entre as atividades, nos apresenta também uma distinção entre órgãos:

 

 "O nous e a razão não são idênticos na Ortodoxia, porque a razão opera no cérebro, enquanto o nous opera no coração

+ (Pe. Georgios Metallinos, “Aspects of Orthodox identity”)

 

"Em seu estado natural, a faculdade noética está localizada no coração e tem lembrança de Deus, e a faculdade racional está no cérebro e forma pensamentos"

+ ("Empirical Dogmatics of the Orthodox Catholic Church, pg260)

 

Apesar de nous e razão serem considerados "energias da alma", ambos têm uma finalidade diferente. Ainda assim, como são órgãos da alma humana que lidam com pensamentos e conhecimento, muitos tomam um pelo outro. Porém, é possível entrar em comunhão com Deus e conhecê-Lo através da faculdade racional?



São Sofrônio considera que não, pois são "processos" com ferramentas diferentes.


"Assim como todo sistema racionalista tem sua sequência lógica, sua dialética, assim o mundo espiritual tem – se quisermos aplicar os termos convencionais – sua estrutura, sua dialética. Mas o argumento da experiência espiritual é peculiar a si mesmo e não segue o processo comum de raciocínio."

 



Em outra oportunidade, o mesmo Santo diz mais:


"A consciência dogmática que tenho em mente aqui é fruto da experiência espiritual, independente da atividade do cérebro lógico. Os escritos, nos quais os santos relataram sua experiência, não foram lançados na forma de dissertações escolásticas. Eram revelações da alma. O discurso sobre Deus e sobre a vida em Deus surge simplesmente, sem cogitação, nascendo espontaneamente na alma.
A consciência dogmática, no que diz respeito ao ascetismo, não é uma análise racional de uma experiência interior - não é “psicanálise”. Os ascetas evitam essa especulação racional porque ela não apenas enfraquece a intensidade de sua contemplação da Luz, mas, de fato, a interrompe, com o resultado de que a alma afunda na escuridão, deixada como está com um conhecimento racional meramente abstrato, desprovido de toda vitalidade. Qual é a utilidade de raciocinar sobre a natureza da Graça se não se experimenta sua ação em si mesmo? Qual é a utilidade de declamar sobre a luz do Tabor se não se vive nela existencialmente? Há algum sentido em “dividir os cabelos teológicos” sobre a natureza da Trindade se um homem não tem dentro de si a força santa do Pai, o amor gentil do Filho, a luz incriada do Espírito Santo?
O conhecimento dogmático, entendido como conhecimento espiritual, é um dom de Deus, como todas as formas de vida real em Deus, concedido por Deus e somente possível por meio de Sua vinda. Esse conhecimento nem sempre foi expresso na fala ou na escrita. A alma não aspira a expor sua experiência em conceitos racionais quando a graça de Deus desce sobre ela. Então, ela não precisa de interpretações lógicas, porque sabe com um conhecimento que não pode ser demonstrado, mas que também não requer prova de que ela vive por meio do verdadeiro Deus...
 (...) Deus é conhecido pela fé e pela comunhão viva, ao passo que o discurso humano, com toda a sua relatividade e fluidez, abre caminho para infinitos mal-entendidos e objeções + (Archimandrite Sophrony, St. Silouan the Athonite.)

Em “A Montanha do Silêncio: uma busca pela espiritualidade Ortodoxa”, Kyriacos C. Markides registra seus diálogos com o então Padre Máximos, que viria a ser o atual Metropolita de Limassol, Athanasios, que na época era arquimandrita.


Em certo ponto de suas conversas, Kyriacos pergunta ao então Pe. Máximos sobre a possibilidade de conhecer a Deus através da vida intelectual e da especulação filosófica, um trecho longo, porém esclarecedor pela simplicidade e exatidão Ortodoxa:

 

“...uma pergunta imediata que me vem à mente”, continuei,” é que se Deus de fato nos incita a sermos inquiridores, como devemos conduzir nossa pesquisa? Devemos nos voltar para a ciência, para a filosofia ou para a teologia como nosso ponto de partida?” Prossegui, elaborando mais detalhadamente o que estava em minha mente. "Começamos nossa busca por Deus observando a natureza? Essa foi a abordagem de Aristóteles. Ao observar a natureza e usar sua poderosa lógica, ele concluiu que deve haver um Criador, um “motor imóvel”, uma causa primordial que colocou tudo em movimento. Suas quatro provas da existência de Deus tornou-se a base da teologia ocidental depois que Tomás de Aquino incorporou a filosofia aristotélica à teologia."

 

Notei um sorriso no rosto do Padre Máximos. Evitando uma resposta direta, ele começou a fazer outras perguntas. “Vamos simplificar as coisas. Vamos supor que desejamos investigar um fenômeno natural. Como o senhor sabe muito bem, para fazer isso, precisamos empregar os métodos científicos apropriados. Se quisermos, por exemplo, estudar as galáxias, precisaremos de telescópios potentes e outros instrumentos do gênero. Se quisermos examinar a saúde física de nosso coração, precisaremos de um estetoscópio. Tudo deve ser explorado por meio de um método apropriado para o assunto que está sendo investigado. Se, portanto, quisermos explorar e conhecer Deus, seria um erro grosseiro fazê-lo por meio de nossos sentidos ou com telescópios, buscando-O no espaço sideral. Isso seria totalmente ingênuo, não acha?”

 

“Sim, se você colocar as coisas dessa forma”, respondi. “Podemos então concluir que, para os seres humanos modernos e racionais, a filosofia metafísica como a de Platão e Aristóteles ou a teologia racional é o método apropriado?” Quando fiz a pergunta, pensei saber qual seria a resposta do Padre Máximos.

 

“Seria igualmente tolo e ingênuo buscar Deus com nossa lógica e intelecto. Mas já conversamos sobre isso antes, não foi?” Assenti com a cabeça enquanto o Padre Máximos continuava. “Considere axiomático o fato de que Deus não pode ser investigado por meio de tais abordagens.”

 

“Então, a metafísica platônica e aristotélica não é o caminho para conhecer Deus.”

 

“Mas é claro que não! Essa é a mensagem que nos foi passada por todos os Anciãos e Santos ao longo da história. A lógica e a razão não podem investigar e conhecer aquilo que está além da lógica e da razão. Você entende isso, não entende?”

 

“Sim. É isso que os místicos têm dito repetidamente. Que Deus não pode ser falado, mas deve ser experimentado. Mas o que isso significa? Significa que Deus não pode ser estudado?”

 

“Não. Podemos e devemos estudar Deus, e podemos chegar a Deus e conhecê-Lo.”

 

“Mas como?” Eu insisti.

 

Padre Máximos fez uma pausa por alguns segundos. “O próprio Cristo nos revelou o método. Ele nos disse que não apenas somos capazes de explorar Deus, mas também podemos viver com Ele, tornar-nos um com Ele. E o órgão pelo qual podemos alcançar isso não são nossos sentidos nem nossa lógica, mas nosso coração.”

 

O Padre Máximos me lembrou, enquanto eu forçava os olhos na estrada estreita, que, de acordo com a tradição dos santos anciãos, a base existencial de uma pessoa é o coração. Além de ser o órgão físico indispensável que mantém o corpo vivo, afirmou ele, o coração também é o centro de nossos poderes psiconoéticos, o centro de nosso ser, de nossa personalidade.

 

Portanto, é por meio do coração que Deus se revela à humanidade. Isso é o que os santos anciãos têm ensinado ao longo dos tempos, que Deus fala aos seres humanos somente por meio do coração, o órgão óptico por meio do qual se pode experimentar a visão de Deus (ndot: theoria). Portanto, aqueles que anseiam por ver Deus não podem fazê-lo por outros meios, como ler Platão e Aristóteles ou dedicar-se à ciência. Por melhor que seja sua filosofia, ela não é o caminho para Deus. 

 

Somente a limpeza e a pureza do coração podem levar à contemplação e à visão de Deus. Esse é o significado, argumentou o Padre Máximos, da bem-aventurança de Cristo: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. “Você entende o que isso significa? Aqueles que desejam investigar se Deus existe devem empregar a metodologia apropriada, que não é outro senão a purificação do coração de paixões egoístas e impurezas"



O Abençoado Ancião Aimilianos de Simonopetras, em seu livro The Church at Prayer”, nega essa possibilidade à razão e nos aponta para o papel da Revelação nesse processo:

 

"Digamos, por exemplo, que eu esteja falando da Santíssima Trindade e diga que a Santíssima Trindade são Três Pessoas, uma Natureza, é isso, é aquilo. Ou que Cristo tem duas naturezas, mas é uma Hipóstase, e assim por diante. O que isso significa? Não entendemos mais sobre tudo isso do que as pessoas que vivem no mundo, porque, embora seja possível pensar sobre essas coisas racionalmente, podemos entendê-las apenas em nosso espírito, apenas por meio do espírito, precisamos de uma revelação como a que foi dada a São João, o Teólogo""

 

Falando sobre o progresso espiritual da alma, o mesmo Abençoado Aimilianos também diz:

"Nossa preocupação é, portanto, com a vida da alma, com a maneira pela qual ela vive. Esse é um assunto muito amplo, e ninguém pode afirmar que o analisa completamente. Por quê? Porque as questões relativas à vida espiritual não têm seus fundamentos na lógica humana. Não é aí que eles se baseiam. É por isso que, de modo geral, qualquer discussão que tente analisar um tópico espiritual somente do ponto de vista da lógica humana será inevitavelmente interrompida. A rigor, portanto, nosso assunto não é teológico nem acadêmico. Em vez disso, é puramente prático" + (The Way of the Spirit: Reflections on Life in God, pg 15)

Ainda, o Arquimandrita Athanasios (Anastasiou) resume que, confundir essas faculdades representa "o maior obstáculo que nos impede de chegar ao conhecimento de Deus é exatamente este: estamos tentando conhecê-Lo da maneira errada, usando métodos errôneos. Substituímos o nous (o coração) pela razão (lógica) e, portanto, acabamos com o racionalismo e a incapacidade de conhecer Deus verdadeiramente)"

 

 Sobre essa afirmação do Arquimandrita Athanasios, é neste ponto que nos encontramos no pós-Queda.





Confusão e curto-circuito

 

Quando essa distinção é ignorada, o homem encontra-se em um estado de enfermidade e “mau funcionamento”, pois: 

"Quando essas faculdades são confundidas e os pensamentos da mente tomam posse do nous e descem para o coração, isso cria a impureza do nous e do coração. 

+ (Pe. John Romanides, "Empirical Dogmatics of the Orthodox Catholic Church, pg.260).


Esse estado é definido pelo Pe. John Romanides como "curto-circuito" e esta é a condição do nous após a Queda.

 

Este curto-circuito faz com que os conceitos do cérebro se tornem conceitos do nous. Como um desdobramento ligando cérebro e coração, esses conceitos próprios da faculdade racional soterram o coração-nous humano, fazendo com o homem se torne escravo de seu ambiente e dos pensamentos. Podemos definir esse estado de confusão, verdadeiramente, como uma enfermidade.


Enfermidade essa que é objetivo de cura da Igreja e a essa cura "consiste na limitação de todos os conceitos no cérebro, sejam eles bons ou ruins, o que é alcançado somente quando a energia noética do coração retorna ao seu movimento cíclico fisiológico por meio de oração noética incessante (Oração do Coração). Aqueles que sustentam que é possível expulsar conceitos ruins e manter apenas os bons no cérebro são ingênuos. É preciso conhecer os conceitos do diabo com precisão para derrotá-lo. Isto é alcançado por meio do movimento cíclico da oração no coração… oração noética." + (“Religion is a Neurobiological Illness, Orthodoxy its Healing,” vol. 2, pp. 67-76)

 

Essa definição concisa de purificação, nos aponta para a urgente necessidade de o nous ser purificado, pois, somente assim ele pode funcionar corretamente. Outro ponto importante, é que ficamos sabendo que essa purificação é alcançada através da Oração Noética. Sobre purificação, o Metropolita Hierotheos de Nafpaktos escreve:

 

"Purificar o nous não é simplesmente uma questão de encontrar os pensamentos que entraram nele, mas de expulsá-los, o que não é alcançado por meio de pensamentos e análises racionais, mas somente pela Oração de Jesus. E quando dizemos “oração”, queremos dizer a ação do Espírito Santo que entra no coração quando Cristo é lembrado no coração. São Gregório Palamas enfatiza que a ação do nous, que consiste em pensamentos, é rapidamente purificada “ao dedicar tempo à oração, especialmente à oração de uma única palavra”. Quando um homem se dedica à oração (noética), a ação de seu intelecto é curada." + (Orthodox Psychoterapy, pág. 142)

 

Quando essa distinção é negada e o processo de purificação não é realizado, o homem torna-se um "antagonista da Lei Divina", tornando-se escravo dos pensamentos e deixando o orgulho envenenar o seu coração pela "superioridade da razão". Sobre essa "ascensão" da razão, São Sofrônio de Essex escreve:

 

"O orgulho se manifesta em parte no plano físico, mas mais essencialmente no plano do pensamento e do espírito. Ele arrogou prioridade para si mesmo, lutando pelo domínio completo, e sua principal arma é a mente racional. 
A mente racional, por exemplo, rejeitará o mandamento ‘Não julgueis, para que não sejais julgados' como sem sentido, exortando (que) a faculdade de poder julgar é uma qualidade distintiva no homem, o que o torna superior ao mundo inteiro e lhe dá o poder de dominar. A fim de afirmar sua superioridade, a mente racional aponta para suas realizações, para sua criatividade, produzindo muitas provas convincentes que pretendem mostrar que na antiga experiência da história o estabelecimento ou afirmação da verdade cai inteiramente dentro de sua província.
A razão, funcionando impessoalmente, é por natureza apenas uma das manifestações da vida na personalidade humana, uma das energias da personalidade. Onde lhe é atribuída prioridade no ser espiritual do homem, começa a lutar contra a sua fonte – ou seja, a sua origem pessoal. Subindo, como pensa, às alturas mais distantes; descendo, como acredita, às profundezas mais baixas, o homem aspira a contatar as fronteiras do ser, para, como é o seu caminho, defini-lo, e quando não consegue alcançar o seu propósito sucumbe e decide que ‘Deus não existe.’
Então, continuando a luta pela predominância, com ousadia e, ao mesmo tempo, miseravelmente, ele diz para si mesmo ‘Se existe um Deus, como posso aceitar que não sou esse Deus? Não tendo chegado às fronteiras do ser e tendo atribuído a si mesmo este infinito, ele levanta-se arrogantemente e declara, ‘Eu explorei tudo e em nenhum lugar encontrei nada maior do que eu, então – eu sou Deus. ‘E é um fato que quando o ser espiritual está concentrado na mente, a razão assume o controle e ele se torna cego para qualquer coisa que o supere e termina por ver a si mesmo como o princípio divino.
A imaginação intelectual aqui atinge seus limites máximos e, ao mesmo tempo, sua queda na noite mais escura. "




Esperança e Autoridade nos Santos

 

Sabendo dessa distinção entre nous e razão e da consequência da Queda nesse funcionamento de ambas faculdades, a Ortodoxia repousa sua gnosiologia na experiência dos Santos.


Os Santos são homens e mulheres curados pela ciência terapêutica da Ortodoxia, eles são o verdadeiro fruto do Evangelho. Os Santos passaram pela purificação, iluminação e uniram-se a Deus, eles viram a Deus (theoria). Neles, vemos um chamado à experiência do Incriado, um chamado à comunhão com Deus, que prevalece sobre a contemplação metafísica abstrata ou ao mero exercício de aprendizado.


Esses homens e mulheres, que tem o Evangelho escrito nas tábuas de seus corações, são os portadores e transmissores desse verdadeiro conhecimento, que corre nas veias da Igreja através da paradosis que ecoa na eternidade. Essa experiência, apesar de clamar por todos os seres humanos, encontra-se preservada unicamente na Ortodoxia, tornando-se impossível àqueles que não partilham das Verdades fundamentais de nossa fé, que defende que independente de nosso status na “vida intelectual”, o caminho da comunhão sempre estará aberto aos que se submetem à Verdade em experiência.

 

“A educação escolar e, mais especificamente, a filosofia, de acordo com a tradição Patrística, não são pressupostos para o conhecimento de Deus (theognosia). Ao lado do grande acadêmico São Basílio, o Grande (†379), também damos honra a Santo Antônio (†350), que, segundo os padrões mundanos, não era sábio. No entanto, ambos são mestres da fé. Ambos testemunham o conhecimento de Deus, Santo Antônio como alguém sem instrução e São Basílio como alguém com mais instrução do que Aristóteles.” + (Pe. Georgios Metallinos - Faith and Science in Orthodox Gnosiology and Methodology)

 

 É urgente que nos livremos das noções escolásticas, suas analogias e conceitos abstratos. Deus nos chama à comunhão através da experiência de nossa Verdadeira Fé.


Não neguemos esse chamado, aceitando a velha proposta da serpente. Pois, aquele que se une a Deus, vendo a luz Incriada com o olho de sua alma, encontra o verdadeiro e único conhecimento. Que mesmo que seja impossível da razão articular, conduz o homem à salvação.

 

 

 

 

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