Por Pe. Zechariah Lynch
"Sê forte, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo e pelas cidades de nosso Deus; e faça o Senhor, então, o que bem parecer bem aos seu olhos." 2 Samuel 10.12
O Senhor chama Seu povo para ser forte e corajoso Nele. São Paulo ordena: "Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos como homens, e sede fortes."(1 Cor. 16.13). Essa ordem é dinâmica e ativa. Continuem fazendo essas coisas. A implicação é que podemos ficar cansados e com medo. Por isso, está escrito em outro lugar: "E não desanimemos, fazendo o que é bom; porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos" (Gálatas 6.9).
Precisamos muito da graça da coragem. O inimigo procura desgastar os santos de Deus. O profeta Daniel viu que uma autoridade sem Deus "proferirá palavras extremamente arrogantes e desgastará os santos do Altíssimo. Ele planejará uma maneira de mudar os tempos e a lei, e lhe será dada autoridade por um tempo, tempos e metade de um tempo" (Daniel 7.25).
De fato, mais do que em qualquer outro momento anterior, a tentativa agressiva de "mudar" os tempos e a lei está sendo feita. São João, o Teólogo, ensina: "E o dragão irou-se contra a mulher e foi fazer guerra ao resto da sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Apocalipse 12.17). Santo André de Cesaréia comenta:
"O Anticristo declarará guerra contra os que foram convocados por Cristo no mundo. Diz-se que ele começará a guerra, de modo que, assim como quando a poeira engrossa a suavidade do óleo, encontrando-os vulneráveis na ocupação da vida, ele os colocará em fuga. Mas muitos dentre eles o vencerão porque amaram genuinamente a Cristo"
Nosso Senhor nos adverte: "E tomai cuidado por vós mesmos, para que em nenhum momento os vossos corações sejam sobrecarregados com excessos, e embriaguez, e cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha desprevenidamente." (Lucas 21.34). Ao crente cristão é ordenado: “Não durmamos como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Tessalonicenses 5.6), pois “O fim de todas as coisas está próximo; portanto, sede sóbrios e vigilantes nas orações” (1 Pedro 4.7).
É evidente que a vigilância, a atenção e a permanência na fé cultivam um coração corajoso. Por outro lado, o comprometimento da fé gera a falta de coragem. Sem a graça da coragem, desmoronaremos diante do ataque dos tempos. Infelizmente, muitas pessoas que se autodenominam "cristãs" têm se submetido de maneira covarde às exigências do mundo caído. Alguns ministros estão mais preocupados em afofar os travesseiros de seu rebanho e mantê-los confortáveis do que em buscar a verdade. A verdade pode ser muito incômoda.
Algumas pessoas estão mais do que satisfeitas em ter o conforto de uma religião sonolenta. Algumas igrejas poderiam simplesmente pendurar uma placa de "não perturbe" nas maçanetas de suas portas. Algumas estão se esforçando ativa e deliberadamente para reconstruir o cristianismo de acordo com a imagem desta era decaída. Podemos ter certeza de que "homens maus e sedutores irão de mal para a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece nas coisas que aprendeste e de que foste assegurado, sabendo de quem as tens aprendido." (2 Timóteo 3.13-14).
É bom lembrar as palavras do grande santo e profeta de nossos tempos, São João Maximovich:
"A busca por concessões será a disposição característica dos homens. A franqueza da confissão desaparecerá. Os homens justificarão habilmente suas quedas, e um mal agradável apoiará essa disposição geral. Os homens se acostumarão com a apostasia da verdade e com a doçura do consentimento e do pecado" (Homilia sobre o Juízo Final).
Antes disso, São João nos lembra com sobriedade que esse espírito de transigência será encontrado até mesmo entre aqueles que afirmam ser ortodoxos, até mesmo entre o clero:
"Haverá uma massa que se afastará da fé; até mesmo muitos bispos trairão a fé, justificando-se ao apontar a esplêndida posição da Igreja" (Ibid).
O espírito de concessão que está sendo abordado está relacionado ao ensinamento essencial e ao ethos da Vida em Cristo (mais uma vez, como um exemplo claro, veja o ecumenismo e a participação "ortodoxa" nele). Ao dizer que haverá uma queda em massa, São João está falando dos cristãos ortodoxos. Isso não significa necessariamente que haverá uma saída física, mas sim que muitos permanecerão e afirmarão ser ortodoxos enquanto proclamam uma neo-ortodoxia, que é simplesmente apostasia (que guardemos nossos corações!). Eles então afirmarão que aqueles que não desejam a "nova ortodoxia aprimorada" são "cismáticos". Para esses, a apostasia será (e já é) o novo padrão de ortodoxia.
Esse espírito de transigência está claro mesmo agora para aqueles que se esforçam em permanecer firmes na fé. De fato, com os olhos de fidelidade aos santos Padres, é possível contemplar visivelmente esse triste estado sendo pregado e promovido como o melhor caminho. A transigência também não é uma manifestação nova, ela sempre foi uma tentação e uma armadilha, mas parece que se tornará uma característica dominante de nossos tempos.
Os novos e santos mártires do jugo soviético, que sofreram em toda a Rússia e na Europa Oriental, são exemplos vitais para nós hoje de como permanecer corajosamente na fé. Eles foram confrontados não apenas com o ateísmo militarista bruto, mas também com o sutil espírito de transigência que se manifestou na Igreja Revisionista ou "Viva" (entre outras). O santo confessor Patriarca Tícon, de muitas maneiras, considerava o "revisionismo" - que também pode ser chamado de adaptacionismo - uma ameaça maior à vida da Igreja do que os militantes ateus soviéticos. Aqueles que deveriam ser discípulos fazem concessões contra Cristo Jesus para adquirir a prata deste mundo.
No livro "Russia's Catacomb Saints", o pesquisador da vida do novo Hieromártir José faz esta importante observação:
"Quando a Igreja está sendo traída e os fiéis desviados, não é hora de elogios e 'diálogos' educados, nem de colocar a 'simpatia' acima da verdade. Para as almas corajosas, o conhecimento de que cada palavra pode levar à prisão ou à morte só aumenta sua ousadia em falar a verdade sem enfeites. E sempre foi assim na Igreja de Cristo; seus defensores sinceros são aclamados como campeões nas canções de louvor da Igreja"
Por outro lado, aqueles que desejam fazer concessões farão o máximo para alterar o ensinamento e o ethos do verdadeiro cristianismo a fim de apaziguar o mundo. Muitas vezes, eles se tornam bastante enfáticos em relação a isso.
O próprio novo e santo Hieromártir José nos ensina:
"Não entregaremos a Igreja como sacrifício à misericórdia dos traidores, dos políticos imundos e dos agentes do ateísmo e da destruição (...). Pedimos que fortaleçam seus poderes para a batalha pela independência da Igreja, mas não da maneira que supõem ser necessária; não por meio de um acordo com os escravizadores da Igreja e os assassinos de Sua santa independência, que se manifesta agora em Sua santa justiça, mas sim por meio de um protesto alto e decisivo contra toda anuência, contra o consentimento hipócrita e mentiroso e contra a traição de Seus interesses aos interesses do satanismo ímpio e uma guerra amarga contra Cristo e Sua Igreja" (Ibid.).
O novo Hieromártir Victor, falando sobre o espírito de transigência que ele enfrentou, um espírito que se vestia com roupas ortodoxas, proclama:
"Considerando que nem todos podem ver através da ruína do último engano (ou seja, os grupos de "ortodoxos" progressistas que promovem a transigência), e isso é especialmente difícil para aqueles cuja mente e coração estão voltados para as coisas terrenas, por causa das quais as pessoas se acostumam a renunciar ao Senhor" (Ibid,).
Há um grande perigo em desejar manter a existência e as coisas terrenas acima de tudo. Se o foco principal das pessoas no cristianismo for manter algum prestígio terreno, elas já estão no caminho do comprometimento. O verdadeiro prestígio da Igreja não é preservado por meio de nada desta terra; na verdade, é exatamente o oposto, como diz Santo Inácio de Antioquia: "O cristianismo é maior quando é odiado pelo mundo".
Em nossos tempos, onde parece que a concessão está sendo cada vez mais normalizada como um caminho viável, é bom refletir sobre a coragem dos verdadeiros pastores ortodoxos. Acima, foi citada uma seleção de palavras de pastores fiéis; aqui, quero relatar as ações de um deles. O incidente é da vida do Novo Hieromártir Andrônico. Vejamos como ele se comportou quando interrogado pelos bolcheviques.
"Convidado a entrar no escritório, o hierarca sentou-se silenciosamente em uma poltrona ao lado da escrivaninha. Por um longo tempo, ele não respondeu a uma única pergunta, orando a Deus e permanecendo com Deus, que o tornou livre e destemido, como alguém que alcançou o amor perfeito que lança fora o medo (cf. 1 João 4:18). Em seguida, retirou sua panagia, que tinha a forma de uma cruz, envolveu-a em um lenço de seda púrpura, colocou-a diante de si sobre a escrivaninha e, voltando-se para seus algozes e perseguidores da Igreja, disse: 'Somos inimigos declarados e não pode haver reconciliação entre nós. Se eu não fosse um arcebispo e se fosse necessário que eu decidisse seu destino, eu, assumindo o pecado, ordenaria que você fosse enforcado imediatamente. Não há mais nada para conversarmos'. Tendo dito isso, ele desembrulhou sem pressa o lenço, vestiu sua panagia, ajustou-a calmamente em seu peito e, imerso em oração, não pronunciou mais nenhuma palavra" (Orthodox Word, nº 335, pág. 300).
Santo Andrônico foi executado depois de ser forçado a literalmente cavar sua própria sepultura.
Como sempre na Igreja, lembramos com grande honra aqueles que corajosamente defenderam a fé, enquanto aqueles que buscaram o caminho mais amplo da transigência são esquecidos ou devidamente desprezados. Eles podem encontrar um triunfo momentâneo, mas sua queda final é inevitável.
Meus irmãos e irmãs, as tribulações de nossos dias se tornarão mais intensas. As tentações de fazer concessões se tornarão mais intensas. A apostasia se tornará padronizada.
Nestes tempos, que são uma continuação do que foi semeado na Rússia Soviética, precisamos adquirir coragem espiritual para nós mesmos. Precisamos pedir ao Senhor que cultive essa graça em nosso coração. De fato, como as Escrituras nos ordenam, que possamos vigiar, permanecer firmes, comportar-nos de maneira corajosa e ser fortes no Senhor. Que o Senhor nos ajude e tenha misericórdia de nós.
1) Neste contexto, o autor aponta a transigência como ato de contemporização, permissividade, complacência ou tolerância com o erro.
Fonte: Pe. Zechariah Lynch - Courage in the Face of Deceitful Compromise - The Inkless Pen
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